sexta-feira, 29 de maio de 2009

Aldeia Velha - (29 a 31 de maio de 2009) - Experiências


(por Rafael Calazans)
  
            Ouçam só... Cessaram-se os ruídos. O frenético, o incessante, o energético, da caixa roxa de Manguinhos, viraram fumaça. As agendas, ditadoras do tempo e controladoras das nossas vidas, pulverizaram-se no ar. A doce sensação de tranqüilidade voa rápida, ignorando o espaço e esmigalhando as circunstâncias, às vezes tão penosas que passamos no inferno urbano.
            E a sensação chegou. O Mandala recomeçou.
            A troca do cinza pelo verde, do barulho pelo silêncio, da turbulência de uma sala de aula por um amanhecer melodioso e exuberante sentado numa pedra. No meio do rio, me faz retomar a um passado que nunca existiu. Uma saudade indefinível. Impossível de ser materializada aqui, através de uma junção silábica estilizada. Pois, ela é tão somente sentida. Sentia presença de uma ausência.Por isso, talvez, parecemos chegar a um estágio de prazer sublime quando encontramos uma cachoeira no final de uma trilha. É mais que uma bela paisagem. É um sim. Belo de encontro com o Perdido.
            O Mandala nos traz não só a possibilidade de aprender a acampar, o estímulo do desenvolvimento da sensibilidade. Mas também traz, põe em relevo, a nossa impotência. O quão fracos e limitados somos, os mamíferos, hiper-racionais. Longe dos objetos ultratecnológicos que encurtam o espaço e o tempo, somos (re)colocados onde pela ambição da soma e a avidez pelo lucro, fomos (re)tirados. Aí a verdadeira condição humana.Condição de dependência e impotência. Condição, sobretudo, de sociabilidade e fraternidade. Ninguém faz uma trilha sem ajudar. A cooperação que nos une frente ao desafio de pisar no mato e numa lama, rabisca e colore a vida solidária e gentil que o furacão ambicioso e vicioso afogou.E pôs o cinza em todo lugar aos que me estenderam a mão, quando as minhas limitações para superar eram gigantes: meu sincero e inocente sorriso. No Mandala  narramos o mundo no plural. Extrapolamos o singular. Exorciza-se o “Eu”, detona-se o individualismo e apaga-se o egocentrismo. É a vitória Gloriosa do “nós” sobre o “eu”. Nós sorrimos. Nós compartilhamos. Nós respiramos. Nós vivemos. Ao “eu” reservo este momento solidário no papel, invocando as lembranças do verde. Refugio-me na memória de mais um sonho. Memória é a vida que jamais acaba. Sentado na pedra do rio, seja numa velha aldeia, numa grande ilha e nos que hão de vir. Guardo o Mandala no coração. Sempre.


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