Ouçam
só... Cessaram-se os ruídos. O frenético, o incessante, o energético, da caixa
roxa de Manguinhos, viraram fumaça. As agendas, ditadoras do tempo e
controladoras das nossas vidas, pulverizaram-se no ar. A doce sensação de
tranqüilidade voa rápida, ignorando o espaço e esmigalhando as circunstâncias,
às vezes tão penosas que passamos no inferno urbano.
E
a sensação chegou. O Mandala recomeçou.
A
troca do cinza pelo verde, do barulho pelo silêncio, da turbulência de uma sala
de aula por um amanhecer melodioso e exuberante sentado numa pedra. No meio do
rio, me faz retomar a um passado que nunca existiu. Uma saudade indefinível.
Impossível de ser materializada aqui, através de uma junção silábica
estilizada. Pois, ela é tão somente sentida. Sentia presença de uma
ausência.Por isso, talvez, parecemos chegar a um estágio de prazer sublime
quando encontramos uma cachoeira no final de uma trilha. É mais que uma bela
paisagem. É um sim. Belo de encontro com o Perdido.
O Mandala
nos traz não só a possibilidade de aprender a acampar, o estímulo do
desenvolvimento da sensibilidade. Mas também traz, põe em relevo, a nossa
impotência. O quão fracos e limitados somos, os mamíferos, hiper-racionais.
Longe dos objetos ultratecnológicos que encurtam o espaço e o tempo, somos
(re)colocados onde pela ambição da soma e a avidez pelo lucro, fomos
(re)tirados. Aí a verdadeira condição humana.Condição de dependência e
impotência. Condição, sobretudo, de sociabilidade e fraternidade. Ninguém faz
uma trilha sem ajudar. A cooperação que nos une frente ao desafio de pisar no
mato e numa lama, rabisca e colore a vida solidária e gentil que o furacão
ambicioso e vicioso afogou.E pôs o cinza em todo lugar aos que me estenderam a
mão, quando as minhas limitações para superar eram gigantes: meu sincero e
inocente sorriso. No Mandala narramos o
mundo no plural. Extrapolamos o singular. Exorciza-se o “Eu”, detona-se o
individualismo e apaga-se o egocentrismo. É a vitória Gloriosa do “nós” sobre o
“eu”. Nós sorrimos. Nós compartilhamos. Nós respiramos. Nós vivemos. Ao “eu”
reservo este momento solidário no papel, invocando as lembranças do verde.
Refugio-me na memória de mais um sonho. Memória é a vida que jamais acaba.
Sentado na pedra do rio, seja numa velha aldeia, numa grande ilha e nos que hão
de vir. Guardo o Mandala no coração. Sempre.
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